Publicado originalmente por New Yorker
Ana Santos, microbióloga da Universidade do Arroz, cresceu em Cantanhede, uma pequena cidade de Portugal conhecida como pólo de biotecnologia e fonte de bom vinho. Quando ela era criança, seu avô, que ganhava a vida encadernando livros, era um homem enérgico que costumava andar de bicicleta pela cidade. Mas em 2019, a sua saúde piorou e ele dependia de um cateter. Um dia, ele teve febre; os médicos descobriram que seu trato urinário estava infectado com uma forma altamente resistente de Klebsiella pneumoniae, uma bactéria comumente encontrada no intestino. Nenhum de seus antibióticos poderia tratá-lo. Alguns dias depois, ele morreu. “Não havia literalmente nada que pudessem fazer por ele”, disse-me Santos recentemente, com fúria na voz. “Uma simples infecção bacteriana o mata? Achei que a medicina tivesse resolvido isso.”
Na época, Santos estava no Centro de Pesquisas Interdisciplinares de Paris, estudando genes que permitem que algumas bactérias vivam mais que outras. Mas depois da morte do seu avô ela decidiu concentrar-se em novas formas de matar agentes patogénicos. Um problema com os antibióticos tradicionais é que as bactérias, que estão sempre em evolução, podem desenvolver resistência ao longo do tempo. Para se manterem competitivos na corrida armamentista entre bactérias e biotecnologia, concluiu Santos, os cientistas poderão precisar de armas inteiramente novas. Ela leu na Nature que os cientistas da Rice, liderados pelo químico James Tour, desenvolveram “máquinas moleculares” que giravam como brocas microscópicas e eram cerca de dez mil vezes menores que a largura de um fio de cabelo humano – pequenas o suficiente para perfurar e matar células individuais.. Pouco tempo depois, Santos mudou-se para Houston para ingressar no laboratório de Tour.
Agora com quase trinta anos, Santos é simpática, mas reservada, com cabelos castanhos lisos, óculos retangulares e inglês com leve sotaque. Ela parece ser o tipo de pessoa que seria a primeira a terminar o dever de casa e a primeira a ajudar os colegas com os deles. Quando a visitei em Rice, em fevereiro passado, ela me conduziu por microscópios, capelas e jarros de vidro âmbar; os produtos químicos do laboratório exalavam um cheiro levemente adocicado, como se as paredes estivessem pintadas com verniz com aroma de banana. Pude ver um T. rex inflável em cima de uma geladeira, sorrindo, e um retrato vermelho, branco e azul de Charles Darwin, inspirado nos pôsteres da campanha de Barack Obama em 2008. “Mudança muito gradual em que podemos acreditar”, dizia.
Quando chegamos à mesa de Santos, ela exibiu uma imagem de uma bactéria em forma de feijão em seu computador. Ela explicou que, em uma placa de Petri, as máquinas moleculares são pequenas o suficiente para entrar nas bactérias, fixar-se no interior das paredes das células bacterianas e criar um túnel através da membrana externa resistente, rompendo-a. As máquinas são ativadas por uma intensa luz azul, que faz com que girem milhões de vezes por segundo – cem mil vezes mais rápido que uma furadeira elétrica. Santos me mostrou uma imagem do rescaldo. As bactérias agora pareciam caroços enrugados com bolhas furiosas na superfície. Ela parecia satisfeita…
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